segunda-feira, maio 21, 2007

Maldoror por Mão Morta!

então, foi assim...

Cenografia - duas paredes onde os efeitos reais, não especiais, transportam-nos para vivências (sur)reais; andaimes suspensos, próprios de qualquer reconstrução pós-apocalíptica;
Vídeo - simples e eficaz, não desvirtuando de forma alguma o ambiente celestial/caótico de uma personagem malvada..e...louca!?; micro-câmaras/pirilampo levam à mente brilhante e desordenada do Conde, à sua palavra ou ainda à beleza de outros cúmplices;
Figurinos - insectos saídos de uma superfície subterrânea algures...o Conde, esse, passeia-se e discursa por entre ruas onde não passará despercebido o pavoneio do seu manto próprio de nobre título...o escaravelho também sai das profundezas e rola carambolas de excrementos...os porcos também por lá andam...
Música - em formato por vezes épico, o experimental e o industrial marcam a batuta seguida pela sonoridade própria dos Mão Morta em modo slowmotion...por vezes interrompida por explosões de fúria e devaneio...
Palavra - intensidade, profundidade, doçura, malvadez...polémica...que texto!!
Adolfo Luxúria Canibal - é impossível nesta simples descrição não abrir um tópico para este Senhor; não querendo minimizar os restantes cúmplices, de facto todo o espectáculo centra-se na sua personagem; que interpretação (!!!!!)...o actor (?), que extraordinário desempenho, dotado de uma invulgar capacidade spoken word, leva aos limites a mente do espectador, deixando-o muitas das vezes inquieto, obrigado a reflectir e encaminhando mesmo ao incómodo aquele mais susceptível; o doce das palavras troca constantemente com a diabrura e com a maldade; esquecemo-nos, por vezes, do habitual Adolfo, e embrenhamo-nos somente naquela figura maquiavélica que um dia quis ser suíno...

Maldoror por Mão Morta
"...estou sujo, roído de piolhos e os porcos quando olham para mim vomitam!"
"...fiz um pacto com a prostituição para semear a desordem nas famílias..."
a não perder...

3 comentários:

Corduroy disse...

Apesar de não ser fã da música dos M.M., não deixo de sentir uma certa curiosidade em ir ver este show destes Bracarenses. e pelo que descreveste, já estou sedento para ir ver. Certamente não falharei uma próxima oportunidade aki perto.
Abraço

carLa disse...

L'enfant terrible Sir Adolfo Luxúria Canibal só poderia ter ido rebuscar um seu semelhante, ora leiam:

«Na Paris sitiada de 1870 e em vésperas do levantamento da Comuna morre aos 24 anos o desconhecido Isidore Ducasse. No entanto este misterioso “homem de letras” deixava atrás de si um formidável empreendimento de demolição de que o romantismo envelhecido e o Segundo Império à beira do desastre não seriam as únicas vítimas. Os seus “Os Cantos de Maldoror”, impressos no ano anterior sob o pseudónimo de O Conde de Lautréamont, não poupam nenhuma autoridade nem nenhum dogma».

Fico aguardando nova apresentação deste espectáculo, pois com muita pena minha, não me foi possível deslocar a Portalegre. Entretanto vou conhecer melhor Isidore Ducasse, pois fiquei com "apetite" :)

Trópico disse...

Conhecia esse texto....e também já fiz questão de comprar o livro; quanto ao espectáculo acho que já disse tudo e fazes muito bem em vê-lo qd tiveres oportunidade para isso.